Voltar
SALA 2
Mistérios do Fogo: as "maternidades" na coleção de José de Guimarães
TODAS AS IDADES
Evento
Segredos, maternidades e cânticos,
entre transmissão e emancipação.
Uma viagem pelos tempos
circulares dos mistérios.
Muitas das histórias associadas aos antigos cultos de fertilidade falam de renovação
e força, como aquelas do santuário de Elêusis, perto de Atenas, onde as deusas
Deméter e Perséfone “faziam” renascer a primavera e a vida vegetal. Fertilidade e sabedoria juntam-se noutro mistério, o da sociedade feminina religiosa Geledé, dos Yorubas e dos Nagô, na Nigéria, Benim e Togo.
Pela primeira vez no museu, apresenta-se um conjunto assinalável de cinquenta
estátuas africanas pertencentes à coleção de José de Guimarães, adquiridas a
partir dos anos 80, na Europa. São mães ancestrais, transmissoras de modelos
de vitalidade e beleza de acordo com os critérios locais e variações regionais.
Os motivos que as definem são universais: a criança nos braços ou suspensa
às costas, o peito e o ventre destapados, a serenidade no olhar. São plurais,
excêntricas, múltiplas.
À sua volta, questionando-as e abrigando-as, estão trabalhos de outros artistas.
Os desenhos florais de Maria Amélia Coutinho (1916-2004), mãe de José de
Guimarães que, na sua simplicidade e evidência realista evocam a “eternidade
efémera” das naturezas-mortas. As histórias de emancipação das mulheres negras, no filme Kbela (2015), da cineasta brasileira Yasmin Thayná. Os cânticos
religiosos ainda hoje interpretados na Sexta-Feira Santa, como é exemplo O
Vos Omnes ou Canto de Verónica. Finalmente, a artista Carla Cruz através do
projeto All My Independent Women, refeito nesta sala, incorpora novos capítulos, neste caso, pedaços da história das mulheres de Guimarães.
Mistérios do Fogo: as "maternidades" na coleção de José de Guimarães
Maria Amélia Coutinho nasceu em Guimarães, em 1916. Filha de José da Rocha
Coutinho e de Maria Mendes Simões. Frequentou o Colégio de Nossa Senhora da
Conceição até 1931, e a Escola Industrial
e Comercial de Francisco de Holanda, em
Guimarães, entre 1931 e 1937, tendo concluído os Cursos de Comércio, Desenho e
Bordados. Foi aluna dos professores José
de Pina, Dr. Fernando Mattos Chaves e do
escultor António d’Azevedo. Casou com
Joaquim Fernandes Marques, em 1939.
Tiveram três filhos: José Maria (o artista
José de Guimarães), Joaquim Maria
e Maria José. Dedicou-se primeiro ao
acompanhamento e educação dos filhos e
depois a causas sociais e assistenciais da
Paróquia de N.ª Sr.ª da Oliveira, em Guimarães. Faleceu a 16 de novembro de 2004.
A Música Portuguesa a gostar dela
própria é uma associação que, com o
trabalho do realizador Tiago Pereira, tem
vindo a criar uma consciencialização para
o conhecimento e importância de um património vivo e muitas vezes esquecido de
tradição oral, cantigas, romances, contos,
práticas sacro-profanas, músicas, danças e
também gastronomia. Esta consciencialização, que é essencialmente um mecanismo
de alfabetização da memória, lembra-nos
de que é urgente documentar, gravar e reutilizar fragmentos da memória de um povo.
O projeto teve início em 2011.
Yasmin Thayná nasceu em Nova Iguaçu,
Brasil. É realizadora e roteirista de mais
de vinte filmes, séries e clipes, entre eles,
“Kbela”, “Afrotranscendence”, “pretalab”,
este último sobre mulheres negras que
trabalham e pensam as tecnologias.
Colaborou em 2020 com o Instituto
Moreira Salles, na realização do filme
“A vida é urgente”.
Carla Cruz é artista, investigadora e
professora (EAUM). Doutorada em práticas
artísticas pela Goldsmiths, Londres. A
sua prática artística recente debruça-se
sobre formas de coexistir numa sociedade
desigual e num planeta danificado. Atualmente desenvolve o projeto “Associação
de Amigos da Praça dx Anjx” com Ângelo
Ferreira de Sousa. Desde 2013, desenvolve o projeto “Finding Money” com António
Contador. Foi cofundadora do coletivo
feminista de intervenção artística ZOiNA
(1999-2004), e da Associação Caldeira
213 (1999-2002). Entre 2005-2013 coordenou o projeto expositivo feminista “All My
Independent Women”.