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QUARTA 13 DEZEMBRO, 21H30
Mulher de
Maiores de 12
Evento
A ideia deste projeto de criação nasce no interior da pesquisa para a minha tese de doutoramento com o título - As estrangeiras. Um olhar feminista sobre o lugar periférico da mulher artista que atua entre o teatro e a educação. – que pretende problematizar o lugar periférico ocupado pela mulher artista que trabalha entre a arte e a educação em Portugal, num passado próximo, e que ainda informa o presente. Dois arquivos pessoais estão no centro da análise: de Isabel Alves Costa (1946-2009) e Glicínia Quartin (1924-2006). Estas mulheres, atrizes e educadoras, tanto no período da ditadura salazarista, quanto durante e após o processo revolucionário de democratização nacional, iniciado com a revolução de 25 de abril de 1974, conceberam metodologias, abordagens e estratégias educacionais únicas.
Esta pesquisa, em particular dentro do arquivo pessoal da Isabel Alves Costa, levou-me a encontrar as cartas que Isabel escreveu aos pais ao longo dos anos que viveu em Paris (de 1963 a 1974). Isabel foi para Paris com 16 anos, 17 feito ainda em viagem, atrás de Zé Mário Branco, o seu amor-amante, exilado, com quem, entretanto, casou. No seu livro autobiográfico, O Desejo de Teatro, quando escreve sobre essa fase de “exílio” em Paris, Isabel utiliza palavras como “passivamente assisti”, “limitava-me a estar presente”, “acompanhei”, “assisti”, “não soube, ou não quis, desempenhar outro papel para além de ‘a mulher do Zé Mário’”, “no meu papel de ‘intermediária’ do Zé Mário”, “sem dar conta, fui desaparecendo atrás do meu papel de ‘mulher de’”, “enquanto ‘mulher de’ era recebida em todo o lado de braços abertos”, “devo ter atingido nesses anos o grau zero da passividade”. É passivo o ato de fazer entrar clandestinamente em Portugal discos embrulhados em fraldas sujas de um filho, na época em que a viagem se fazia de comboio e demorava quase 30 horas? É passivo o ato de comprar uma viola, para dar resposta aos desejos de outro adiando os seus?
Projeto desenvolvido no programa ‘Criação Crítica’ (8 – 13 dezembro)
Com acompanhamento dramatúrgico de Marta Bernardes
Entrada gratuita, até ao limite da lotação disponível. Levantamento de bilhetes no local, a partir das 20h30, antes do início da atividade.